top of page

TRUMP E SUA NEGAÇÃO DA CIÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA DECADÊNCIA IDEOLÓGICA


ree


Neste mês de setembro, o atual presidente dos Estados Unidos da América fez mais afirmações sem fundamento científico. Em uma delas, declarou que o uso de paracetamol durante a gestação e a aplicação de vacinas em bebês estão associados ao autismo. Organizações internacionais, médicos e institutos de pesquisa têm se pronunciado desmentindo-o pela patente ausência de fundamento. Em verdade, essa é mais uma declaração dentre as inúmeras deste governo que desacredita do conhecimento científico.


A negação da crise ambiental global se junta a essas considerações difundidas por um dos chefes de Estado mais poderosos na sociedade capitalista contemporânea. Em discurso na Assembleia Geral da ONU, Donald Trump disse que a mudança climática é uma enganação.


As afirmações desta figura pública não são, exatamente, uma grande novidade, pois, desde seu primeiro mandato esteve comprometido com a negação da ciência. Mas, a despeito disso e da existência de figuras similares em território brasileiro, é pertinente pensarmos seus por quês e/ou sua origem. Podemos nos perguntar: por que é recorrente e pouco nos espanta afirmações de caráter negacionistas do ponto de vista científico realizado pelo presidente de uma das principais potências mundiais?


Essa pergunta se torna mais intrigante se lembrarmos que o pensamento científico esteve umbilicalmente ligado ao desenvolvimento do capitalismo. Não haveria revolução industrial sem os conhecimentos originários da física, química, matemática e demais áreas da Ciência. Da mesma forma, não há desenvolvimento e consolidação da ciência moderna desvinculados dos processos de acumulação.


A ascensão da burguesia enquanto classe social dominante esteve diretamente relacionada à crítica da centralidade do pensamento religioso como forma predominante de explicação, pelo menos, na Europa, berço das revoluções. Pari passu à ascensão e consolidação da burguesia, desenvolveu-se uma nova forma de abordar a natureza bem como as relações sociais, tendo o humano e suas capacidades explicativas, cientificamente comprovadas, como centro.


Esse movimento de centralidade do humano como sujeito produtor de conhecimento, ao mesmo tempo que objeto, se manifestou em todos os âmbitos da vida, ecoando de maneira muito genuína nas artes e literatura. No entanto, como nos lembra o filósofo húngaro György Lukács, quando a burguesia perde o seu caráter revolucionário (intensamente manifestado contra à aristocracia) e se consolida como classe dominante, o pensamento científico e filosófico também perde. O irracionalismo é para o referido autor expressão desta condição que caracteriza o pensamento reacionário.


Ao que nos parece, a ascensão de Trump (que não é um caso isolado, já que temos também na periferia do sistema outros (ex)-chefes de Estado com a mesma postura) é a radicalização de um momento de acirramento de uma crise societal, no qual o irracionalismo (que tem razão de ser) é utilizado como instrumento para dominação.


Nesse sentido, a ciência moderna, que certamente deve ser criticada pelos seus limites e compromissos com a sociedade burguesa, se mostra arma de luta frente à reação e à mistificação do mundo.



2 comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
carlosobsbahia
carlosobsbahia
30 de set.

Muito bom texto! Essa ascensão da burguesia e avanço da ciência foi muito bem colocado.

Curtir

Everton
30 de set.

" ...o irracionalismo (que tem razão de ser) é utilizado como instrumento para dominação."Muito bem colocado. Parabéns pelo texto!

Curtir
SOTEROVISÃO
SOTEROVISÃO

CONHECIMENTO | ENTRETENIMENTO | REFLEXÃO

RECEBA AS NOVIDADES

Faça parte da nossa lista de emails e não perca nenhuma atualização.

             PARCEIROS

SoteroPreta. Portal de Notícias da Bahia sobre temas voltados para a negritude
bottom of page